Caudal Restaurativo (2021)

Margarida Mendes e Maria Lúcia Cruz Correia

Um convite à coletivização do conflito e do luto ambientais, tendo o rio como principal interlocutor.

 

“Caudal restaurativo” é um percurso performativo em que nos tornamos um corpo ouvinte, enquanto somos testemunhas do ecossistema que nos circunda sincronizando simultaneamente com o movimento aquático interior, à medida que nos deslocamos  através de um processo de alinhamento com a elemento aquático. Caminhar com o rio é uma forma de cuidado recíproco, que nos permite conectar com a paisagem e infraestrutura circundante enquanto nos aproximamos da liquidez ancestral reconhecendo a relação que partilhamos com o rio e a forma como a nutrimos através das nossas ações.

 

Durante este percurso praticamos o activismo regenerativo, para reconhecer os crimes ambientais e o luto climático ao longo do baixo Tejo, que temos vindo a investigar colectivamente em contacto com comunidades locais e associações ambientais. Nesta ocasião, tomaremos como foco o planeamento da construção do novo aeroporto ao largo da Reserva Natural do Estuário do Tejo,  investigando os possíveis impactos cumulativos, que poderão provocar o desaparecimento de espécies aquáticas, formas de pesca e subsistência dos seus habitantes, bem como as as memórias aguadas que compartilhamos ao redor do rio. 

 

A caminhada tem a duração de 3 horas, e é composta por vários momentos; um círculo de partilha com a intervenção de testemunhas locais, um processo de luto do rio, bem como a sua escuta terminando com uma oferenda ao rio onde temos a oportunidade de criar um espaço de reconciliação. Esta caminhada conta com a participação de Alexandra Aragão, cientista do direito e escritora de ambiente na Universidade de Coimbra, e membros da comunidade activista Lisboa. (Margarida Mendes e Maria Lúcia Cruz Correia)

Margarida Mendes é curadora e investigadora. A sua pesquisa - com enfoque no cruzamento das humanidades ambientais, filme experimental e artes sonoras - explora as transformações dinâmicas do ambiente e o seu impacto nas estruturas sociais e no campo da produção cultural.  Integrou na equipa curatorial da 11th Gwangju Biennale "The 8th Climate (What Does Art Do?)", 4th Istanbul Design Biennial "A School of Schools", e 11th Liverpool Biennale "The Stomach and the Port". É consultora de ONGs ambientais que trabalham sobre a mineração no mar profundo e dirigiu também diversas plataformas educacionais, como escuelita, uma escola informal do Centro de Arte Dos de Mayo - CA2M, Madrid (2017); O espaço de projectos The Barber Shop em Lisboa dedicado à pesquisa transdisciplinar (2009-16); e a plataforma de pesquisa curatorial sobre ecologia The World In Which We Occur/Matter in Flux (2014-18). Margarida Mendes é doutoranda no Centre for Research Architecture, Visual Cultures Department, Goldsmiths University of London.

 

Maria Lúcia Correia é uma artista cujo trabalho reflete a sua implicação profunda com as crises ecológicas e a emergência climática. As suas instalações visuais, performances e laboratórios participativos expressam cosmopolíticas, solidariedade anti-colonialista, e afinidades entre a espécie humana e um mundo-mais-que-humano. Maria Lúcia usa ferramentas e metodologias informadas pelas práticas das constelações sistémicas, acordos conscientes, justiça restaurativa, ativismo, rituais e magia. Foi artista residente em Vooruit de 2013 a 2019, onde desenvolveu 1 place and 11400 seconds, Urban Action Clinic, Common Dreams: Flotation School e Voice of nature:the trial (Roel Verniers Prijs, 2017). Em 2019 o seu novo projeto Kinstitute, foi selecionado para os prémios COAL.

NOTAS