Nosso Wayuri (2025)
Lilly Baniwa, Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Olinda Tupinambá & Ziel Karapotó, Juão Nyn
Primeiro Contato: Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó, primeiras pessoas indígenas e nordestinas a tocarem a Carta de Pêro Vaz de Caminha, 525 anos depois da sua escritura. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, maio de 2025. Impressões digitais, 100x70cm. Fotografias por Violena Ampudia. Direitos reservados.
Wayuri é um gesto de criar coletivo ou, tão só, de fazer algo em conjunto. A escolha de uma palavra em língua nheengatu, língua geral amazônica alimentada por bases do tupi, e proibida no séc. XVIII por Marquês de Pombal por ser uma ameaça à imposição da língua portuguesa, celebra a força agregadora e a reinvenção da arte indígena contemporânea. Uma alegria de fazer junto, de convocar a multitude de línguas, vozes, vidas e biomas indígenas que se encontram e resistem perante a sedimentação estrutural da violência colonial entre Portugal e o Brasil.
"Nosso Wayuri" reúne Lilly Baniwa, Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Olinda Tupinambá & Ziel Karapotó e Juão Nyn no espaço da exposição retrospetiva do artista Denilson Baniwa, coletivizando-a. A programação propõe um encontro ao longo de uma tarde e resulta do processo de investigação convocado pela plataforma Terra Batida, uma plataforma orientada a desconstruir as noções de ecologia face ao entrelaçamento de visões e responsabilidades. A pesquisa, que durou cerca de dois anos, foi marcada por residências de encontro, investigação e criação com artistas indígenas em museus históricos e etnográficos em Lisboa e Coimbra, pensando estratégias de convivência, resposta e cuidado.
Neste encontro performativo coletivo, diferentes ações e gestos performativos se tecem e se misturam entre si, e com os trabalhos de Denilson Baniwa.
Entre a poesia e a performance, serão lidos excertos de Cartas do Fogo, colaboração curatorial e artística entre Ellen Pirá Wassu e Ritó Natálio, que convida a uma experiência de transmutação e digestão do encontro com estas coleções históricas, Um diálogo em torno de processos de desflorestação e das políticas institucionais de desaparecimento, conservação e memória, aplicados ao território brasileiro e português.
Outra perspetiva é a do caminho ou do retorno, como indica a palavra em baniwa diakhe, que dá nome à performance da atriz Lilly Baniwa, do Alto Rio Negro. Nas palavras da artista, “entre águas e memórias, o diakhe chama: um percurso do retorno, onde territórios e saberes ancestrais se encontram para tecer cura e conexões, rompendo o silenciamento imposto aos objetos sagrados que carregam nossas histórias.”
Já "Contra-feitiço a escrita maldita" é uma ação de resposta de Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó ao encontro presencial dos artistas com a Carta de Pêro de Vaz de Caminha, de 1 de Maio de 1500, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Olinda e Ziel realizarão uma performance/ritual, por meio de seus corpos-territórios, que estabelecerá uma contra-narrativa sobre a primeira escrita descritiva portuguesa sobre os povos indígenas do Brasil, a fim de desfazer as amarras do olhar colonizador sobre os povos originários. Juntos, invocarão um cenário de disputa de narrativas, de tensão entre o visível e invisível, do dito e não dito. Olinda e Ziel irão imprimir histórias gravadas muito antes da chegada das caravelas Portuguesas, marcas que atravessam séculos e florescem no agora. Passado, presente e futuro se entrelaçam, e a história, enfim, é questionada, recontada e reescrita com protagonismo e autoria indígena, por quem sempre a viveu.
Por fim, como desdobramento da sua obra anterior, "Contraxawara", o artista Potyguara Juão Nyn propõe uma ação performativa intitulada "Branqueologya", uma reperformance do primeiro contato entre o "homem branco" e os povos nativos de Abya Yala. “Que troca ainda precisa ser (des)feyta?”, pergunta o artista.
No programa de "Nosso Wayuri" há ainda lugar para uma conversa com o público e para uma instalação de vídeo que apresenta o processo de pesquisa deste grupo de artistas em acervos museológicos — no Museu Nacional de Etnologia, no Museu Nacional de História Natural e da Ciência, no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, na Academia das Ciência e no Museu da Ciência da Universidade de Coimbra.
Uma exposição de Denilson Baniwa
Curadoria Ritó Natálio | Terra Batida
Em colaboração com Laila Algaves Nuñez e Rafaela Campos
Show-concerto-ritual (vernissage) de Brisa Flow
Programa de performances Nosso Wayuri (Alkantara Festival) com Ellen Pirá Wassu & Ritó Natálio, Juão Nyn, Lilly Baniwa, Olinda Yawar Tupinambá & Ziel Karapotó
Pesquisa curatorial (2024) Ellen Pirá Wassu e Ritó Natálio
Diálogos em residência António Gouveia, Associação Batoto Yetu Portugal, Carla Coimbra, ECO - Animais e Plantas em Produções Culturais sobre a Bacia Amazónica, Jamille Dias, Karen Shiratori, Neil Safier, Museu Nacional de Etnologia, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Museu da Ciência da Universidade de Coimbra, Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Direção técnica Ricardo Pimentel
Desenho expositivo Ricardo Pimentel, Denilson Baniwa e Ritó Natálio
Captação de imagem Violena Ampudia
Imagens adicionais Olinda Yawar Tupinambá, Ziel Karapotó, Jamille Dias, Laila Algaves Nuñez, Ritó Natálio
Edição de vídeo Ian Capillé
Design gráfico para o desenho expositivo Nayara Siler
Execução gráfica Juvenália & Sá (sublimação, “Rasuras”), Gracal – Gráfica Caldense (brochura, “Fera Utopia”), Câmaras & Companhia (diapositivos, “Caçadores de Ficções Coloniais”), Mago Studio (risografia, “Aqui é Terra Indígena”), Viragem Lab (fotografias, “Primeiro Contato”)
Construção de equipamento complementar Fernando Travassos
Empréstimos Museu Nacional de Etnologia, Museu Nacional de História Natural e da Ciência, Museu da Ciência da Universidade de Coimbra
Produção Associação Parasita
Coprodução e acolhimento Alkantara Festival, Galerias Municipais / EGEAC
Direção de produção Catalina Lescano / Associação Parasita
Apoio administrativo Helena Baronet / Associação Parasita
Apoio à exposição de Denilson Baniwa The PIPA Foundation
Parceria EDGES – Entangling Indigenous Knowledges in Universities
Agradecimentos Carla Coimbra, Lysandra Domingues, Jamille Dias, Marta Lourenço, Mafalda Santos, Origami produções
A PARASITA é uma estrutura financiada pela República Portuguesa – Ministério da Cultura/Direção-Geral das Artes e, desde 2024, pela Câmara Municipal de Lisboa – CML/RAAML.
Primeiro Contato: Olinda Tupinambá e Ziel Karapotó, primeiras pessoas indígenas e nordestinas a tocarem a Carta de Pêro Vaz de Caminha, 525 anos depois da sua escritura. Arquivo Nacional da Torre do Tombo, maio de 2025. Impressões digitais, 100x70cm. Fotografias por Violena Ampudia. Direitos reservados.